Conta-se que um homem que se sentia muito infeliz, devido a uma doença e perdas familiares, saiu de sua vila para falar com um Grande Mestre, que habitava num templo em outra vila. O homem queria que o Mestre lhe explica-se as causas de seu infortúnio, tinha de haver uma explicação.
Chegando ao templo, o forasteiro encontra o Mestre no jardim ao fundo, praticando bastão com os seus discípulos, todos compenetrados, o silencio era imenso. O homem ficou em pé, esperando ser visto ou que lhe dirigissem a palavra, porem só existia um grande silêncio harmônico, que só o deixava mais ansioso. Subitamente, se atira aos pés do Sábio, chorando e gritando: “Grande Mestre, olha para mim, escuta-me, mostra-me as causas de meus sofrimentos. Por que isto acontece a mim? Por que estes eventos me perseguem, justo a mim?”
O Sábio, sem se abalar, olha com compaixão e diz: “Agora não posso te responder nada, não assim como estás; só falas de doenças, perdas e infelicidade. Se te respondo, não compreenderas, pois a mente ocupada pela doença, por sentimentos de perda ou infelicidade, não o permite. Voltas para tua casa e só retornes quando melhorares.”
“Então, nada me falarás? Não posso retornar para casa de mãos vazias, tens de falar o que quero saber.”-retruca o forasteiro.
“Digo algo para ti: Seu interior está tumultuado, como um mar numa tempestade; tudo está perdido neste turbilhão. Estás como um cego a caminhar no escuro. Indico este meu discípulo mais jovem, para que te sirva de guia e dou-lhe meu bastão que sirva de apoio para ti. Como não queres voltar, iras com ele para um cabana que temos ali na montanha, ali exercitaras bons hábitos, praticas físicas e de meditação, até ser chamado de volta”.-sentencia o Mestre.
Subindo a montanha, o suplicante descobre que o jovem guia faz a prática do silêncio e deverá ficar sem falar até voltar para o convívio do templo.
Passam-se os dias, o mais velho começa a seguir a rotina do mais jovem: saudar o sol pela manhã, exercitar-se com o bastão, caminhar pelo planalto, parando para perceber o vento tocar na pele. À tarde meditavam e à noite contemplavam a lua. Todo mês subia um monge para levar comida, instruído para dar a mesma resposta caso o visitante perguntasse quando deveria ver o Mestre, o que sempre acabava acontecendo: “Ainda não é o momento”.
Dia após dia, os dois eremitas se concentravam na rotina de atividades, com o passar do tempo, o forasteiro já não se lamentava mais, tão pouco os fatos remoíam em seu interior.
Certo dia, vendo a lua, que estava cercada de nuvens, ia comentar que as nuvens lá estavam para estragar a bela visão, quando tomou consciência de que todo era perfeito: as nuvens eram apenas passageiras, que nada tinham a ver com a presença da lua, tampouco existia uma intenção de atrapalhar, elas apenas estavam por ali. A lua sempre esteve ali, assim como as estrelas, o cosmo, as montanhas; simplesmente estavam lá.
Tomou consciência que assim eram os eventos da Existência, eles apenas ocorrem, a mente egóica é que afirma existirem razões para que aconteçam com esta ou aquela pessoa. Olhando a lua, respirou profundamente e saboreou a sensação do frio da noite em sua pele, pois era isto que se apresentava no momento. Sua mente estava vazia, seu coração pacificado.
Naquela noite teve o melhor sono dos últimos anos, assim como, daqui para adiante; não mais perguntava pelo retorno ao templo ou pelo Grande Mestre.
Quando ia completar um ano de retiro, o Grande Mestre mandou um emissário avisar aos dois eremitas que já era hora do retorno e se o forasteiro queria as explicações, quando chegasse ao templo.
“Diga ao Mestre que daqui retorno para minha vila, já ouvi todas as explicações dele vindas daqui mesmo, não existem mais perguntas.”- falou o forasteiro apontando para o seu coração.
Ao retornar para a vila, os habitantes não reconheceram o antigo vizinho; estava muito mudado, com um semblante diferente. Curiosos, perguntaram o que tinha acontecido, e o homem responde: “Mudando de hábitos e meditando, pacifiquei a minha mente. Agora, mesmo a distancia, ouço as respostas do Mestre; elas estavam aqui dentro, eu apenas não as escutava, pois a mente estava repleta.”
Baseado em artigos sobre Contos Zen, Matthieu Ricard e Osho.
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